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A prática de surfe está sendo promovida na Grã-Bretanha como terapia, em escolas especializadas, para jovens excepcionais.
Um dos alunos da escola Discovery Surf School, em Devon, na costa sul da Inglaterra é Archie Pollock, 13 anos, que tem uma forma severa de autismo. Ele mal fala ou escreve, não consegue permanecer quieto e se recusou a comer carne, peixe ou verduras durante anos. Archie gosta de aproximar das pessoas e farejá-las e não pode ser deixado sozinho. Há dois anos, a mãe de Archie, Christianne, ficou sabendo as aulas na Discovery e levou o filho. Depois de negociar com Archie o uso do macacão para surfar nas águas geladas costa britânica, já que ele não suporta roupas apertadas, o menino começou a ter sessões semanais de surfe. Segundo Christianne, depois de começar a surfar, Archie ficou mais relaxado e tranquilo na presença de outras pessoas. "No ano passado ele surfava durante todo o tempo livre que tinha. Ele estava relaxado e nós estávamos relaxados. Foram as primeiras férias (em família) que nós realmente aproveitamos". A mãe do menino acredita que a exposição ao vento e às ondas ajudou Archie. "Ele gosta dos elementos. Ele é muito sensorial e eu imagino que o surfe forneça isto [sensações]", disse. Veteranos Há vários anos, na Grã-Bretanha, membros das Forças Armadas que sofriam de transtorno de estresse pós-traumático disseram que a prática do surfe aliviava sintomas do transtorno. Várias escolas de surfe do país agora estão aceitando crianças com autismo, paralisia cerebral e síndrome de Down. Mas, para Matthew White, pesquisador do Centro Europeu para o Meio Ambiente e Saúde Humana, na Cornualha, não há provas conclusivas dos benefícios do surfe para estes casos. "É por estar na água, pela atividade física, é a qualidade dos instrutores, é melhor que qualquer terapia com arte, montaria em cavalos ou ficar em casa assistindo a [seleção de futebol da] Inglaterra vencer a Ucrânia enquanto bebe uma cerveja?" questiona o pesquisador. "Nós simplesmente não sabemos, pois não foi feito nenhum estudo de controle", acrescentou. O Centro Europeu para o Meio Ambiente e Saúde Humana trabalhou com a empresa de surfe baseada na Cornualha Global Boarders, que dá aulas para crianças que foram excluídas de escolas. White conta que estas aulas trouxeram "mudanças positivas" nas atitudes e comportamentos das crianças. "Temos algumas ideias de por que isto aconteceu, mas não é uma solução rápida e mágica. Vai depender muito do profissionalismo e dedicação dos [professores] que participam do programa e não vai funcionar com todo mundo". "Como um entusiasta do surfe, porém não muito bom, posso ver onde estão os benefícios, mas... não deveríamos confundir palpites com provas", afirmou. ![]() Competição Na semana passada mais de 40 competidores participaram em Newquay, na Cornualha, do que pode ter sido o primeiro torneio de surfe para pessoas com problemas de aprendizado. O organizador do torneio, o Wave Project, fez um programa de seis semanas com verbas do serviço público de saúde britânico, o NHS, em 2010 para analisar o efeito do surfe em pessoas com problemas de saúde mental. O relatório produzido concluiu que, por 49 libras (quase R$ 158) por pessoa, por aula, o surfe "vai fornecer um retorno social positivo para o investimento", mas afirma também que é preciso fazer mais pesquisas. Agora o Wave Project tenta conseguir verbas do NHS para que um assistente de pesquisa analise os benefícios no longo prazo. "É difícil justificar (o pedido) quando as pessoas estão perdendo o emprego, mas se economizar dinheiro no longo prazo reduzindo o custo dos tratamentos de saúde mental, valerá a pena", afirma Joe Taylor, coordenador do Wave Project. Para Christianne Pollock, mãe de Archie, não há dúvidas de que a proposta é válida. "Depois de anos de atividades que duravam no máximo alguns minutos, ver Archie encontrar algo que ele faz feliz durante horas ainda me emociona", disse. |
Fonte: G1
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